Veja quais são os principais desafios do agronegócio brasileiro nesta análise feita pela equipe do Consilium Insper para a seção Insights, da Sigalei. Acesse o artigo e confira!
agronegócio brasileiro vem tendo bons números em 2020. De janeiro a agosto, exportou mais de 70,1 bilhões de dólares. Somente em julho foram 10,01 bilhões – 11,7% a mais do que no mesmo mês em 2019. Numa matéria publicada em seu site,[1] o Canal Rural divulgou resultados de um estudo realizado pela empresa de consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio. Pelo estudo, espera-se que as exportações alcancem um total de US$ 105,7 bilhões ao fim do ano, as importações, US$12,2 bilhões, e, sendo assim, que o saldo da balança comercial do setor fique em US$ 93,5 bilhões. Isso seria um recorde histórico.
Há dois fatores notáveis para tamanhos números. A China, que vem se consolidando como o principal parceiro comercial, foi responsável por quase 40% das exportações do setor entre janeiro e julho. Conforme informa Ricardo Bomfim, repórter do InfoMoney, isso se deve, em parte, à necessidade de muitos pecuaristas chineses terem de repor plantéis de porcos perdidos em 2019, durante a epidemia de peste suína africana, e ao aumento do prêmio da soja brasileira decorrente de disputas comerciais entre os Estados Unidos e a China.[2] Além do aumento da demanda, a valorização do dólar -- que chegou a custar R$ 5,93 em 14 de maio -- não apenas tornou os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional, mas também trouxe receita extra aos produtores nacionais somente com a conversão da moeda norte-americana em real. Apesar dos ganhos, com o real mais depreciado, os insumos para as próximas safras, por serem precificados em dólar, se tornam mais caros para aqueles que não se protegem contra a volatilidade cambial.
Esta também é um empecilho para aqueles que contraem dívidas com estrangeiros. Foi na tentativa de lidar justamente com as incertezas do cenário internacional que o governo federal sancionou em abril a lei 13.986/2020, proveniente da MP do Agro (MPV 897/2019). A nova legislação visa baratear o crédito para os produtores rurais, que podem, desde então, criar fundos conjuntos e, desse modo, dividir responsabilidades e facilitar negociações de dívidas. A MP conta com mais alterações que facilitam o acesso a crédito, como permitir fracionar partes da propriedade como garantia de empréstimos.
Há décadas o Brasil vem dando importantes passos na direção de um desenvolvimento sustentável do ponto de vista ambiental. Criou-se toda uma cadeia de produção energética a partir de biomassa, que, além de ser limpa e renovável, foi, em 2017, a terceira mais importante fonte de energia no país, responsável por 9% de todo o consumo energético. Segundo a especialista Mônika Bergamaschi, presidente executiva do Instituto Brasileiro para Inovação e Sustentabilidade do Agronegócio, os avanços tecnológicos, bem como o aprimoramento do capital humano de gestores rurais e demais integrantes do setor produtivo do agronegócio, têm permitido também que o crescimento da produção agropecuária decorra mais de ganhos de produtividade do que de expansões da fronteira agrícola. Bergamaschi afirma num artigo publicado no Portal Embrapa que “a redução da pressão pela abertura de novas áreas tem feito com que toda a agropecuária ocupe, hoje, menos de 30% do território brasileiro, que é de 851 milhões de hectares. As áreas preservadas, cobertas com vegetação nativa, somam 66%”.[3]
Não obstante, nos últimos anos, o debate sobre a relação entre o agronegócio e a preservação do meio ambiente, que envolve profundamente o Brasil, tem ganhado bastante destaque na mídia. Em 2019, quando se intensificaram as denúncias de queimadas na Amazônia, líderes e ativistas internacionais, como a jovem sueca Gretha Thunberg, ergueram grande voz em favor da sustentabilidade. O presidente da França Emmanuel Macron chegou a declarar ser adequado boicotar países que desmatam. Neste ano, durante a Semana do Clima 2020, 17 grandes entidades, como Carrefour, Walmart e Consumer Goods Forum (CGF), anunciaram a criação da Forest Positive Coalition of Action – coalizão voltada a pressionar fornecedores em nome da sustentabilidade. Houve inclusive pressão política direta: o vice-presidente Hamilton Mourão recebeu, na semana do dia 16 de setembro, uma carta de 8 países, liderados pela Alemanha, exigindo ações de combate ao desmatamento.[4]
Paralelamente, as ações pela sustentabilidade têm ganhado força. Os investidores no agronegócio cada vez mais se preocupam com o impacto de seus investimentos no meio ambiente e na sociedade e, por isso, consultam análises como a ESG (Environmental, social and corporate governance), que avalia empresas de acordo com sua governança, impacto social e ambiental. Por suas vezes, algumas gigantes do agronegócio já põem em prática planos em prol da sustentabilidade: a Marfrig anunciou neste ano o Plano Marfrig Verde+, que estabelece que toda a produção se dê sem desmatamento até 2030; e a Bunge ratificou sua meta de eliminar o desmatamento de toda sua produção até 2025, proposta cinco anos atrás.
O principal desafio do agronegócio brasileiro é manter o crescimento econômico integrando cada vez mais práticas sustentáveis. A sanidade do produto brasileiro também é vital. Nos últimos anos, o país põe adota medidas visando à garantia da qualidade sanitária, especialmente à erradicação de doenças. Uma conquista foi ser reconhecido em 2018 pela Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) como livre da febre aftosa – doença que ataca bovinos e suínos. Em 2019, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento divulgou o plano de autocontrole que estabelece que a garantia da qualidade da produção será feita pelas agroindústrias. O setor enfrentará, pois, o desafio de realizar esse controle de maneira eficiente, mantendo a qualidade do produto brasileiro.
O Brasil ainda é visto com bastante entusiasmo por órgãos internacionais ligados à ONU devido à sua importância mundial na produção de alimentos e o bom desempenho na preservação do meio ambiente. Dada a importância do nosso meio ambiente para todo o mundo, é bastante compreensível que as atenções de todos de vez em quando estejam focadas em como o agronegócio brasileiro abraça a sustentabilidade. E dada a relevância do agronegócio para a nossa economia, é essencial manter uma imagem boa e amistosa às exigências globais e fazer vigorarem com regularidade as legislações ambiental e sanitária, para que os infratores sejam devidamente punidos e isso gere um incentivo extra ao desenvolvimento de técnicas e práticas produtivas mais sustentáveis.
[1] https://www.canalrural.com.br/noticias/agricultura/exportacoes-agronegocio-recorde-2020/.