Dando continuidade ao nosso debate sobre o Índice de Fidelidade Partidária (IFP) traremos, neste artigo, uma análise sobre o IFP do PMDB, sua relação com os partidos da base e com o PT. Muito se tem comentando (na mídia e nas redes sociais) sobre o comportamento, principalmente, do PMDB com relação ao governo. Por este motivo centramos atenção no comportamento destes partidos analisando a movimentação do PMDB ao longo do ano de 2015.
Calculamos então o IFP para cada partido da Base Governista separadamente, considerando os votos dos parlamentares.
No geral, os parlamentares dos partidos da base aliada correspondem às orientações do governo federal. Quando separamos os partidos da base e os analisamos, alguns pontos merecem destaque. O gráfico a seguir demostra o grau de fidelidade partidária dos parlamentares com relação ao governo federal de dois partidos: PT (vermelho) e PMDB (laranja). O fato que chama a atenção é a queda de fidelidade partidária do PMDB nos meses de Abril e Julho chegando a 42% e 41%, respectivamente.
Além dos fatos já mencionamos no artigo “Uma análise da fidelidade partidária em 2015” para ilustrar o panorama vivido nos meses de queda da fidelidade partidária – especificamente sobre a relação da fidelidade entre PT e PMDB – vale destacar alguns pontos. Foi no período entre Março e Abril que o procurador-geral Rodrigo Janot lança uma lista de nomes (entre eles estavão os nomes de Renan Calheiros e Eduardo Cunha) pedindo a investigação da relação deles com o processo da “Lava-jato”. Em Julho houve o discurso do deputado e presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha. Neste discurso ele demonstrou sua insatisfação com o governo, afirmando que iria abandonar a base governista. Este fato alterou a fidelidade do partido (PMDB), mostrando que Cunha possuia, na época analisada, uma boa base de sustenção dentro do partido.
Atrelado aos dados expostos acima, quando inserimos os outros partidos da Base Governista, é interessante notar que, conforme demonstrado, a maioria dos partidos da base tem uma variação de fidelidade ao governo muito parecida com a movimentação do PMDB (em laranja). É evidente que não queremos provar que o PMDB possui influência direta sobre os partidos. Esta afirmação deve ser acompanhada de um estudo mais aprofundado. Nosso objetivo deste artigo é mostrar que, em alguns momentos, o PT não consegue frear o movimento independente dos partidos da base. E mais, alguns destes partidos que compõem a base tomaram, ao longo do ano, ações conjuntas e que estavam em desacordo com o governo federal. Exemplo disso, foi a proposição da PEC 299 (redução de Minsitérios) que foi defendida, pelo PSDB, DEM, PPS, mas também por alguns partidos da base aliada, tais como PMDB, PP e PTB.
As exceções, além do próprio PT, é o PCdoB (vermelho) e o PDT (roxo). Estes dois partidos possuem dinâmicas próprias com relação ao grau de fidelidade ao governo federal, conforme exposto no gráfico a seguir. Apesar de que, também nestes casos, os fatos ocorridos em Março e Abril impactaram no índice de fidelidade destes partidos junto ao governo, como pode ser observado abaixo.
No geral, o IFP demonstra que atualmente partidos e parlamentares tendem a ser fiéis em relação às orientações do governo federal. Cabe destacar dois pontos. O primeiro é que, apesar de atualmente os partidos da base possuírem alto IFP, o PCdoB e PDT possuem comportamento de fidelidade diferente dos demais.
Segundo, os outros partidos da base alteram seu IFP de modo muito semelhante ao PMDB. Como mencionamos, não podemos afirmar categoricamente que foi a ação do PMDB que levou os outros partidos a terem um comportamento político semelhante. O fato destacado é que mesmo fazendo parte da base aliada existiu, em alguns momentos, comportamentos de “sub-grupos,” nos quais suas ações não eram as estipuladas pelo governo (como mencionado no exemplo da votação da PEC 299). Entendemos que, estrategicamente, o PT deve se manter atento ao comportamento do PMDB, e, também, ao movimento de associação entre os partidos da base visando ações contrárias ao governo. Além disso, este tipo de comportamento abre possibilidades da oposição iniciar conversas com partidos de dentro da base aliada.