Gestão de Risco Político é uma grande preocupação para os profissionais de RIG. Confira o impacto das proposições!
os últimos anos, o processo de consolidação da área de RIG (Relações Institucionais e Governamentais) no País, vem acompanhado de uma mudança de eixo na atividade: de uma posição antes reativa, no sentido de evitar que os assuntos de determinado setor fossem regulados de modo ineficaz, para uma atitude mais participativa, em que o profissional reúne informações e traz contribuições para o assunto.
Para tanto, é preciso avaliar o impacto de uma proposta ou de um projeto de lei. E saber o quanto a área de RIG pode fazer a diferença. Que mudanças uma iniciativa legislativa pode trazer para a empresa? A área de RIG tem condições de estimá-las?
Para Raul Cury Neto, headhunter especializado na área de RIG, sim. “Inclusive, quando vou recrutar profissionais para esse mercado, há habilidades técnicas e comportamentais desejáveis em um profissional, para que ele tenha condições não só de analisar os impactos de determinado tema para as empresas, mas também de prevê-los e até tentar evitá-los”, explica.
A análise do impacto que as proposições podem causar nos negócios é fundamental. Ela pode nortear decisões e até evitar problemas maiores para a empresa.
Contudo, para compreender a repercussão de uma proposição, é preciso, antes, conhecer profundamente o setor no qual a empresa está inserida, com todas as suas nuances. Apenas desta forma o profissional conseguirá ter clareza e discernimento para analisar. E é justamente por isso que a atividade de RIG exige tantas habilidades.
“Na área comportamental, é preciso ter uma boa capacidade de comunicação e persuasão, porque o profissional tem que saber engajar os stakeholders externos e internos. Também é necessário um poder de liderança para criar alianças em toda a cadeia de stakeholders, principalmente entre os internos, para a construção das agendas, em especial, as reativas. E, por fim, ter diplomacia”, aponta Raul.
Depois de consolidada a área de RIG dentro da empresa, papel geralmente desenvolvido pelo próprio profissional de RelGov, entram em ação as características técnicas do profissional.
“Além das principais, que são o conhecimento do cenário político, o mapeamento de stakeholders externos e o monitoramento da Legislação, é essencial que o profissional tenha vasto conhecimento sobre a empresa e sobre o segmento em que ela está inserida. Ele precisa mapear os principais clientes internos e engajá-los para conhecer o negócio”, alerta Raul.
A tecnologia tem permitido a muitos profissionais que atuam em RIG automatizar os processos que envolvem a execução dessa atividade. O acompanhamento da pauta legislativa, por exemplo, é uma das ações possíveis com os recursos tecnológicos. A pesquisa direta é outra.
A digitalização dos resultados permite ao profissional de RIG obter dados quantitativos e qualitativos sobre a existência de todos os projetos em discussão que podem afetar o negócio da empresa.
A importância dessa modernidade toda é que, com isso, o profissional pode municiar legisladores e agentes da sociedade civil sobre os impactos de um determinado produto ou serviço, com o intuito de colaborar com a criação de políticas públicas.
Desta forma, seria possível colher informações mais precisas diretamente com os usuários. E com isso, estabelecer evidências sobre o impacto daquele produto ou serviço para a sociedade em diferentes aspectos.
A suspensão de uma determinada política pública pode gerar um grande impacto nos negócios de uma empresa. Trabalhar por sua manutenção, portanto, é papel do profissional de RIG.
A desoneração na folha de pagamento, que tem o objetivo de reduzir a carga tributária paga por uma empresa sobre a folha de pagamento, é um bom exemplo de como se pode mensurar o impacto de uma proposição.
Para Eduardo Galvão, professor do MBA em Gestão de Políticas Públicas e do MBA em Relações Institucionais do Ibmec, esse é um ótimo momento para o profissional de RIG que, além de comprovar o impacto que tal projeto terá para a empresa, pode aproveitar para calcular o ROI em RIG.
“Os setores que conseguirão se manter nessa desoneração, terão um resultado de centenas de milhões por ano. Se o profissional de RIG atua em um desses setores e consegue demonstrar o valor gerado com apenas uma política pública que trabalhou, o ROI acaba sendo surpreendente. Vamos dizer que o seu setor tenha sido desonerado em R$ 500 milhões por ano e sua equipe custa R$ 1 milhão por ano. Olha só que ROI impressionante que se tem nesse caso”, analisa.
A questão financeira de uma empresa pode ser emperrada por uma mudança no governo e, portanto, nesse ponto, a atuação de RIG é fundamental. O impacto de uma proposição, contudo, vai para além dessa questão. O lado social nunca deve ser desprezado, afinal, está diretamente relacionado à imagem da empresa.
“Existe uma proposta para tornar o saneamento um direito social previsto na Constituição. Eu não consigo mensurar financeiramente o retorno dessa aprovação, mas consigo avaliar a relevância dessa decisão, que terá um impacto alto. E isso deve ser considerado”, destaca Eduardo.
Ele lembra que é preciso deixar de lado a mania de achar que para aqueles que atuam em RIG tudo é diferente, muito mais difícil, aliás. “Existem outras atividades que enfrentam a mesma dificuldade. E se para nós é difícil, imagine para o governo que tenta medir o impacto da política? Então às vezes, precisamos superar o medo de achar que é difícil mensurar um resultado. Com informação, às vezes, uma boa conversa, e com o auxílio de amigos de outros departamentos, sempre é possível medir esse impacto”, afirma.
A tragédia de Brumadinho é outro exemplo que teve grande influência na imagem da empresa. Casos negativos como esse podem e devem ter um trabalho mais efetivo da área de RIG, em parceria com outros departamentos da empresa, tanto na prevenção, quanto na gestão de riscos.
Especialmente, quando a atuação da empresa pode interferir de modo intenso em uma questão tão importante, e ao mesmo tempo tão delicada, como é o meio ambiente. Nesses casos, o profissional de RIG deve procurar entender quem são as principais áreas internas com as quais ele precisa construir esse relacionamento para criar engajamento.
“Entender o negócio, identificar as agendas reativas e construir os melhores caminhos e estratégias de acordo com os interesses da empresa são os principais passos para a construção de um plano eficaz de prevenção e gestão de risco”, destaca Raul.
Segundo o headhunter, faz parte do papel do profissional que atual em RIG o plano de gestão de crise. “Se ele conhece os negócios, sabe os problemas que a área em que a empresa está inserida pode ter. E junto com outros departamentos - segurança, área técnica etc. – pode fazer o levantamento e a identificação de todos os potenciais riscos do negócio, criando com as áreas técnicas todas as medidas preventivas e reativas de segurança”, relata.
Para Raul, apenas o conhecimento de todo o contexto permite que seja elaborado um mapa de risco, um plano de prevenção de crise. Justamente para que evitar que uma tragédia aconteça e manche a imagem da empresa.
“Além disso, também é importante ter um modelo de gestão de crise desenhado. Porque supondo que a empresa tenha tomado todas as medidas cabíveis e, ainda assim, ocorra algo ruim, quais medidas reativas de gestão de crise a empresa vai tomar?”, questiona.
A construção de um relacionamento com a comunidade vizinha, uma comunicação efetiva com os órgãos governamentais em todas as instâncias, incluindo agências reguladoras, e uma área de comunicação muito forte são meios para criar um modelo de gestão de crise.
“Ocorrido o evento, é preciso, então, saber quais são as ações que a empresa deve ter no manual de gestão para colocar em prática e, com isso, dar todas as respostas para o governo, para a sociedade, e tomar todas as atitudes necessárias para sanar aquela crise”, finaliza Raul.
*artigo com colaboração da jornalista Suzana Amyuni