Brasília é onde o Brasil se encontra e, muitas vezes, se acomoda. É o lugar das carreiras estáveis. A busca por um belo cargo em uma grande empresa, que respira a atmosfera política, ou por um emprego público dos sonhos costuma ser o desejo mais comum. A cidade forma dinastias de funcionários públicos ou as inicia com os melhores cursinhos preparatórios do País.
Nesse cenário, empreender não aparenta ser um caminho natural. Na contramão da trajetória familiar (pai funcionário público), a advogada Carolina Venuto resolveu botar para fazer, uma das definições mais simples (e completas) do empreendedorismo. Mas ela não montou um escritório de advocacia, o que seria mais comum. Há três meses, virou player do complexo tabuleiro de xadrez da área de RelGov. Aos 32 anos, fundou a Ética Inteligência Política, uma consultoria em Relações Governamentais, e está no jogo de gente grande.
A escolha na área de atuação tem relação com a descoberta do próprio perfil, mais voltado para a mediação do que para o litígio. Entre cursos e conversas, identificou a área de Relações Governamentais como uma possibilidade, materializada quando começou como analista de Relações Governamentais do Itaú, em 2013, depois de anos no Ministério da Justiça como parecerista e assessora parlamentar. O próximo passo foi trabalhar em uma empresa especializada em Consultoria Política e Governamental, a Dominium. Ela entrou como analista e, em pouco tempo, vagou o cargo de direção, o qual foi assumido por ela durante um período de teste até a conquista efetiva.
Em um universo que se autodenomina por acrônimos, Carolina pretere o RelGov. Prefere estar alinhada ao vocabulário oficial. “Se o governo me chama de RIG, então RIG eu sou”, ela se define. Desde o início do ano, 6 números e um hífen deram mais respaldo à carreira de lobista, ou melhor, ao profissional de Relações Institucionais e Governamentais, incluído na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), sob o registro 1423-45.
E qual o diferencial de um advogado RIG?
“O RIG tem o poder de diálogo, de conversar, do tête-à-tetê. A advocacia me trouxe (a preocupação com) o processo, prazo, métricas. Sou boa de conversa, mas, além disso, sou boa de olhar o regimento, ver um brecha, entender como faz, para onde vem, para onde vai, legalmente qual é o espaço que eu tenho para atuar.”
A métrica também foi importante para conseguir dar um passo de cada vez rumo ao negócio próprio. Sempre com o frio na barriga, claro, mas não a ponto de paralisá-la. Foi um ano e meio se organizando financeira e emocionalmente.
“Não fui doutrinada para empreender. A gente não aprende isso. Mas surgiu a oportunidade e eu fiquei com essa batata quente na mão. O caminho que eu busquei foi planejar. Tinha plano A, B e C. Quando saiu do papel, fiquei com o Plano D”, ela brinca.
Nesse caminho, ela percebeu que precisava de um diferencial. Além de criatividade na atuação, era preciso entregar algo palpável, em perfeita sintonia entre meios e fins.
“Hoje em dia, o cliente não fica só satisfeito se você aprovou o projeto. Ele quer saber como você fez, por onde você passou. O caminho passa a ser tão importante quanto a entrega.”
Como em todo negócio, de uma padaria à um escritório de RelGov (ops, RIG), o próximo passo é angariar clientes. E, para isso, haja prosa e sola de sapato. “Estou na fase de prospectar outros clientes, muita troca, parceria, muito cafezinho.”
Entre os clientes a serem conquistados, estão os escritórios de advocacia e conselhos profissionais. “O judiciário impõe uma rotina complexa e é possível entregar resultados de uma maneira mais rápida e eficaz. Por exemplo, antes de precisar de uma resposta no Judiciário, (é possível) evitar que aquele problema aconteça”, ela exemplifica.
Estratégia definida, escritório montado, clientes em prospecção, o momento também é de encarar as dificuldades normais de qualquer empresa. E, nesse aspecto, a palavra-chave é resiliência. Cair e levantar é uma qualidade desejável. Carolina conta com a disciplina de atleta para ajudá-la a enfrentar esse processo. Dos 6 aos 22 anos, ela foi patinadora artística (!). “Quando a coisa fica morna, eu fico para morrer. Eu quero sempre mais, entregar mais.”
Deslizar por áreas escorregadias, fazer um boa exibição (caminho), com um bom resultado final (entrega) – pode-se dizer que a vida de patinadora tem muita semelhança com o trabalho de RIG. E, se vier o tombo, o melhor é se levantar com um sorriso no rosto e se preparar para uma exibição ainda melhor.