Conversar com alguém que está radicado em Brasília é sempre um exercício de adivinhação. A cada frase, desponta uma mistura de sotaques típica da capital federal. Com Fabíola Nader Motta, gerente de relações institucionais da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), não é diferente. A cada frase, a cada cadência, o interlocutor aposta em uma região do Brasil. Mas o que aparenta é um leve acento mineiro. Fabíola, filha de militar que serviu em várias partes do País, nasceu em Juiz de Fora (MG) e se mudou muito jovem para Brasília. Pelo histórico familiar e pela profissão que escolheu, ela é, aos 31 anos, uma típica brasiliense.
Outro aspecto da fala também não passa despercebido. As frases redondas, repletas de dados, resumem outra característica – desta vez, profissional. O poder de articulação e convencimento demonstra o preparo para exercer a atividade que escolheu. As respostas bem pontuadas parecem até que já estão ensaiadas, roteirizadas, mas essa impressão é desfeita quando a mesma capacidade de articulação é demonstrada tanto para as perguntas mais óbvias quanto para as improvisadas, que surgem durante a conversa.
Como manter participação política com neutralidade política? De bate-pronto, vem a resposta. “Trabalho perene, contínuo, no qual você não escolhe candidatos, partidos, lados. Muita transparência, ética e compliance. Mantemos contato constante com nossa base, para colher subsídios e argumentos que a gente pode utilizar no nosso trabalho. Fazendo isso de forma contínua, você consegue perpassar governos e momentos políticos.”
Fabíola ajuda a dar voz a uma instituição que, pelos números, poderia facilmente ser confundida com um pequeno país. A Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) representa 6.600 cooperativas. Se fosse um País, teria fechado 2017 com um PIB estimado em R$ 300 bilhões. São 15 milhões de cooperados e 48% da produção agrícola brasileira.
Em 621 municípios brasileiros, as cooperativas de crédito representadas pela OCB são a única fonte de crédito instalada nos municípios. Em 2017, o bom trabalho feito pela equipe liderada por Fabíola ajudou na aprovação, por unanimidade, da Lei Complementar 161 / 2018, que permitiu que essas cooperativas tenham acesso às disponibilidades de caixa da prefeitura. “Antes, as prefeituras tinham que gerir os seus recursos em outros municípios, às vezes, a 200, 300 quilômetros de distância. Com a aprovação, as cooperativas vão poder fazer a movimentação, o pagamento dos servidores. Ou seja, os recursos vão ficar naquele município, vão ser replicados na mesma comunidade”, ressalta Fabíola.
Apesar de números tão impressionantes, tanto de renda gerada quanto do número de atores envolvidos, Fabíola avalia que o cooperativismo ainda é bastante desconhecido pela sociedade e pelos agentes públicos. Esse é um grande desafio enfrentado diariamente.
“A gente leva um tempo longo para explicar como é o nosso setor, quem a gente representa e qual é o impacto que os assuntos vão ter para os nossos cooperados e cooperativas. O cooperativismo é um conceito muito moderno, de economia partilhada, capitalismo consciente, de economia colaborativa. São as pessoas trabalhando por elas mesmas. Todos são donos e participam com os mesmos direitos e deveres daquele empreendimento.”
Apesar desse grande potencial, ela conta que, muitas vezes, os projetos não levam em conta a realidade das cooperativas. “A Agenda Institucional do Cooperativismo aborda questões tributárias, regulatórias, novos mercados que a gente gostaria de abrir. Entre os temas monitorados são mais de 900 projetos de lei e 1600 normativas que têm impacto.”
A trajetória de Fabíola retrata o avanço da carreira do profissional de relações institucionais/governamentais. Antes mesmo de se formar em Ciência Política, na UNB, Fabíola entrou como estagiária na OCB e viu a equipe passar, em 11 anos, de dois analistas e uma estagiária (ela), para um departamento estruturado com 10 profissionais.
“Antes, era assessoria parlamentar, termo que não se usa mais. A equipe foi crescendo e hoje temos analistas que também cuidam das relações internacionais e relações públicas. Dos 10 profissionais, 6 são cientistas políticos.”
Como nenhuma instituição aumentaria essa estrutura por altruísmo com os profissionais de RelGov, fica ainda mais evidente que os resultados motivaram o avanço da equipe. “Começamos com uma equipe pequena que foi crescendo conforme as nossas entregas e resultados. A nossa atividade-fim é representação política. Então, a gente tem toda uma equipe técnica, jurídica, tributária, para escutar a nossa base e precisamos ter uma equipe de relações governamentais forte para levar todo esse conhecimento aos agentes públicos.”
Para a consolidação da carreira no País, Fabíola aponta como fundamental esse gerenciamento de resultados, que incluem indicadores de esforço e resultado. “Com isso, mostramos para a diretoria e para a nossa base todo o monitoramento que a gente faz e os resultados sociais e econômicos que vêm disso. Esse é um ponto importante para a profissão de RelGov crescer no país: quais são os resultados efetivos.”