Atualmente são 96 mil profissionais de RIG atuando no Brasil. Conversamos com Eduardo Galvão sobre a importância da pesquisa “O perfil dos Profissionais de Relações Governamentais”, lançada em 2018, para compreender quem são os lobistas brasileiros. Um dos resultados? A maioria deles não fica em Brasília!
Brasil tem um Maracanã de lobistas. Na realidade, o que parece exagero ainda é uma generalização modesta. O maior estádio do País não daria conta de juntar tanta gente. Na ponta do lápis, o Brasil tem um Maracanã e um Maracanãzinho de profissionais de Relações Institucionais e Governamentais (RIG). E muitos ainda ficariam na fila.
Ao todo, são quase 96 mil profissionais que representam mais de 40 mil associações e entidades sindicais. Os números foram levantados na pesquisa “O perfil dos Profissionais de Relações Governamentais”, lançada no fim do ano passado.
A pesquisa ajuda a derrubar alguns mitos. O primeiro deles, óbvio, é em relação à quantidade. “Confesso que o número assustou”, conta o coordenador da pesquisa, Eduardo Galvão. Ele explica que o levantamento teve diferentes etapas, desde 2017, e que o objetivo era justamente sair do achismo. “Precisamos de dados concretos para ler o real contexto, baseado em evidências.”
Dados
O trabalho de fôlego, compilado em 34 páginas, demandou cerca de 120 horas de trabalho (voluntário) dos profissionais-pesquisadores de RIG. Tendo em vista o custo da hora-trabalho desta turma, se fosse um projeto pago, a conta bateria dezenas de milhares de reais – e valeria cada centavo.
O levantamento oxigena o panorama da profissão. É claro que o profissional da capital federal, engravatado e com uma agenda lotada de reuniões com parlamentares faz parte deste universo, mas ele é minoria. O perfil mais comum é de profissionais espalhados por todo o País, despachando em equipes pequenas.
Para chegar a esta realidade, os pesquisadores tabularam as competências necessárias para a atividade, consultaram o Ministério do Trabalho e Associações e enviaram questionários para os profissionais. “Qualquer presidente de uma associação de classe é um lobista por natureza”, explica Galvão.
Apesar de a atividade de representação institucional estar no DNA de tantas entidades e associações, muitos ainda não têm essa percepção de que fazem parte do universo dos profissionais de Relações Institucionais e Governamentais.
Um dos focos da pesquisa foi traçar este panorama para conseguir mensurar melhor o impacto de políticas púbicas ou regulamentações envolvendo este profissional, já que somente a realidade de Brasília (neste caso e como em tantos outros) não representa o todo.
Perfil
Vamos chamar de Rui Martins o profissional padrão que emergiu do levantamento. Segundo a pesquisa, os homens são maioria, mas não por muito (58,1%).
Se levarmos em conta os números absolutos, Rui moraria em São Paulo, estado que concentra 30% dos profissionais. Proporcionalmente, Santa Catarina é o estado que tem a maior concentração (10,33 profissionais para cada 10 mil habitantes).
Sendo paulista ou catarinense, Rui trabalharia em um empresa privada (36,9%). Possivelmente, do setor farmacêutico, área que concentra 14,8% dos profissionais, o maior percentual entre os nichos de mercado.
Rui teria inglês fluente (81,5%), graduação em Direito (23,6%) e pós-graduação (66,6%). Se fosse analista, teria cerca de 30 anos, cinco de experiência e renda mensal perto de R$ 10 mil. Cada avanço para coordenador, gerente ou diretor levaria cerca de 5 anos a mais na área, o que lhe renderia avanços salariais de aproximadamente R$ 5 mil a cada etapa.
Novos questionamentos
A pesquisa trouxe uma série de questões relevantes. Ela revelou que a proporção entre homens e mulheres (60% x 40%) se mantém tanto nos cargos iniciais da carreira quanto nos gerenciais e estratégicos.
Alguns resultados da pesquisa conseguem ser explicados como, por exemplo, a alta concentração de profissionais no setor farmacêutico. “Os setores mais regulados tendem a ter mais profissionais. E diferentemente de mercados mais concentrados como o energético, a área farmacêutica reúne muitas empresas, que contratam um grande número de profissionais”, explica Galvão.
Outro dado relevante foi o pulverização de lobistas pelo País. Em números absolutos, o Distrito Federal está em oitavo lugar. E, proporcionalmente, ainda está atrás de Santa Catarina, estado que detém a já citada maior concentração de profissionais.
“Não temos uma explicação sobre por que Santa Catarina está em primeiro lugar. Mas sabemos que foi o primeiro estado a criar uma associação regional de profissionais de RIG. Ou seja, são dois dados que dialogam entre si”.
Os números da pesquisa devem ser, no futuro, o ponto de partida para novos questionamentos que buscam ampliar a visão sobre a profissão – agora, retratada com muitos pixels a mais. São informações importantes que podem contribuir para o debate sobre a regulamentação da atividade, assunto que está na pauta do dia.
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Confira o relatório completo http://www.pensarrelgov.org.br/resultados-da-pesquisa-o-perfil-do-profissional-de-relacoes-governamentais/
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