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A pandemia nas eleições de 2020

A Covid-19 trouxe um horizonte de muitas incertezas. A pandemia se tornou a variável mais importante para as eleições deste ano e seus impactos nas urnas ainda são difíceis de mensurar. Confira a análise da equipe do Consilium Insper.

Publicado em:
13/8/2020
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m 2016, ano das últimas eleições municipais, o cenário político nacional estava sendo marcado pelo fim do governo da então presidente Dilma Rousseff e algumas ações da operação Lava-Jato investigando esquemas de corrupção envolvendo funcionários públicos, empresários e políticos ligados ao Partido dos Trabalhadores e outros partidos brasileiros. O resultado nas urnas naquele ano foi que o PT perdeu metade das prefeituras que detinha no Brasil (na capital paulista, por exemplo, onde há uma disputa histórica entre PT e PSDB, o tucano João Doria derrotou o então prefeito Fernando Haddad, petista, logo no primeiro turno), um reflexo, como dito por comentaristas de política na mídia, de uma perda de prestígio nacional que o partido sofria após o impeachment e o escancaramento dos esquemas de corrupção. 

Aquelas eleições mostraram que acontecimentos notáveis no âmbito político nacional podem influenciar em alguma medida o debate público e os resultados eleitorais em nível municipal, que costumam estar associados sobretudo a questões pertinentes a um município. O sentimento antipetista açulado em 2016 ou mesmo os gritos antipolítica e antissistema de 2018 parecem não ter o mesmo protagonismo no pano de fundo das eleições em 2020. Eis que acontece neste ano a pandemia do novo coronavírus, justamente no ano eleitoral, desviando o foco da política e trazendo à luz questões e problemas relacionados a saúde pública mas que podem envolver também outras dimensões do bem-estar social. 

Embora o país (e o mundo) todo seja afetado, afinal é pandemia, há uma epidemia de covid-19 acontecendo em cada município que evidencia as deficiências de atendimento a pacientes e sanitárias dos hospitais e outras unidades de saúde municipais, elenca mais um transtorno para a lotação dos ônibus e trens nas cidades e impõe desafios enormes como a retomada das aulas nas escolas municipais. É uma oportunidade para prefeitos e vereadores, que estão em seu último ano de mandato, se mostrarem bons administradores e capazes de lidar com problemas tão grandes e inesperados para que os seus sucessos no combate ao coronavírus fiquem mais frescos na memória dos eleitores no momento do voto; mas é também uma situação de emergência para a ação do poder público, o que exerce uma pressão extra sobre as atuais gestões podendo culminar em derrota nas urnas para os governantes que disputarem reeleição ou até mesmo no afastamento de um prefeito ainda em exercício. 

A pandemia influenciará também a maneira com que as eleições ocorrerão. Atualmente, os pré-candidatos estão aguardando as convenções partidárias, que serão realizadas de 31 de agosto até 16 de setembro, para saberem se serão ou não os candidatos oficializados por seus partidos. Quando forem oficializados, os candidatos terão pela frente dificuldades em realizar suas campanhas, uma vez que comícios e eventos públicos que aglomeram muitas pessoas dificilmente irão ocorrer antes da vacinação em massa (inclusive, está em tramitação na câmara federal o PL 3602/2020, que pretende proibir a realização de comícios e eventos públicos da campanha eleitoral enquanto durar o estado de calamidade pública).

A proximidade com o eleitorado, comum em todas as eleições, deverá ser compensada pela tradicional campanha no rádio e na televisão e a indispensável nos dias de hoje campanha digital, o que volta as atenções de todos ao problema de fake news, que vem sendo amplamente discutido no debate público desde pelo menos 2016. Outra questão modificada pela pandemia são as datas do primeiro e segundo turno, antes marcadas para dia 4 e 25 de outubro, respectivamente. A Câmara dos Deputados aprovou, em dois turnos, a PEC que determina o adiamento das eleições, agora definidas para 15 e 29 de novembro.

Outros prazos legais também foram alterados pelo TSE, como a data limite para prestação de contas dos candidatos, que ficou para o dia 15 de dezembro e mexeu com a formatação estratégica da tesouraria de cada partido envolvido nas eleições de 2020, tornando ainda mais única essa corrida eleitoral. Por fim, ainda há a possibilidade de municípios brasileiros não terem suas eleições nas datas hoje estabelecidas, caso as administrações locais reconheçam que não há condições sanitárias suficientes para que se garanta a segurança dos eleitores e voluntários para o trabalho no dia da eleição. Em tais casos, haverá a disponibilização de datas alternativas para a realização do pleito, com data limite no dia 27 de dezembro


Tags
Eleições
Inteligência Política
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