Fomentar cultura ESG de maneira sustentável ainda é um grande desafio das organizações; e a área de Relações Institucionais e Governamentais tem papel fundamental para promover diálogos cooperativos
SG é um dos assuntos que atualmente dominam o debate no mercado empresarial. Prova disso são os espaços generosos dedicados pela imprensa em matérias, lives e eventos – e o surgimento de jornalistas, colunas e até mesmo sites especializados no tema. E cada vez mais vemos o crescimento do interesse pela sigla que vem do inglês Environmental (Ambiental, E), Social (Social, S) e Governance (Governança, G). Uma rápida pesquisa no Google Trends mostra que as buscas por ESG sobem continuamente, e por vezes chegam a equivaler-se às procuras no Google por outra sigla relevante, a da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
Mesmo com todo esse apetite, há uma longa jornada pela frente para que o assunto se torne conhecido e principalmente seja incorporado à cultura das empresas no Brasil. É exatamente o que mostrou recente estudo encomendado pelo já citado Google à MindMiners. Divulgada em setembro, a pesquisa analisou 274 marcas com atuação no Brasil a partir de 35 atributos. Segundo o estudo, apenas um em cada cinco brasileiros consultados diz já ter ouvido falar no tema e quase metade não consegue associar ESG a nenhuma marca no Brasil. Ao mesmo tempo, quatro em cada cinco brasileiros declaram como importante a atuação dessas empresas em ações relacionadas a meio ambiente, panorama social e governança.
Esse resultado, sem dúvida, espelha o próprio fato de muitas empresas terem colocado ESG no radar nos últimos três anos, sendo que algumas já até protagonizaram iniciativas e boas práticas relacionadas. O tema ganhou impulso na pandemia, visto então como uma crise de “sustentabilidade”, e essa percepção ocorreu já na fase inicial.
Não por acaso, em um evento realizado pelo XP em 2020, o executivo Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora de investimento do mundo, com quase US$ 8 trilhões em ativos, disse que o ESG tinha vindo para ficar e que companhias e investidores teriam de se adaptar. Destacou, ainda, ver um movimento sem volta na realocação do capital para setores mais sustentáveis.
Com toda essa pressão, não é difícil imaginar uma espécie de “corrida ao ouro” das empresas brasileiras, tanto das que são listadas como daquelas que planejam abrir capital – e até mesmo das que são fornecedoras dessas empresas.
Afinal, não ser uma empresa comprometida com o assunto, hoje em dia, representa uma grave ameaça à própria sobrevivência do negócio, diante do risco de perder grau de investimento ou do perigo de ver reduzido o fluxo de exportações para mercados que impõem o engajamento das empresas em uma manifesta agenda socioambiental.
Diante desse cenário, é preciso que a organização tenha firme propósito de elaborar e executar um plano estratégico pautado em objetivos claros e mensuráveis, estabeleça compromissos públicos tangíveis, e seja de forma inquestionável capaz de agregar valor para a sociedade e gerar maior engajamento às marcas e causas.
Isso posto, cabe uma reflexão quanto à importância das Relações Institucionais e Governamentais (RIG ou RelGov) neste desafio, uma vez que essas respectivas áreas são estratégicas nessa caminhada de transformação ou adaptação, seja liderando ou atuando lado a lado com outras áreas, especialmente os times de Sustentabilidade, Jurídico, Recursos Humanos, Compliance e Relações com Investidores, quase sempre com envolvimento direto do CEO e do Conselho de Administração.
A concepção de uma exitosa agenda ESG passa por ampla reflexão e consistente aplicação de valores para que de fato iniciativas adotadas e divulgadas tenham eficácia e credibilidade. E confiança, como todos sabemos, é muito difícil de se conquistar e muito fácil de se perder. Logo, vale lembrar que RIG lida essencialmente com construção e preservação de imagem e reputação.
Internamente, a área de RIG tem papel fundamental de atuar para o engajamento dos propósitos e o alcance de metas mensuráveis. Externamente, sua função é buscar interlocuções técnicas e políticas com autoridades públicas; lideranças sociais, ambientais e setoriais; especialistas; representantes do meio acadêmico; e dentre outros. O objetivo é fortalecer relações de confiança que contribuam para que os resultados almejados em ESG sejam plenamente reconhecidos e sustentáveis.
Trata-se de uma necessidade inerente ao trabalho de RIG que fortalece muito o comprometimento corporativo com a cultura de transparência, inclusão social e preservação ambiental, além de gerar mudança de percepção de investidores, órgãos governamentais, ONGs, fornecedores, colaboradores, parceiros e clientes – especialmente consumidores cujas satisfação e proteção de direitos deve-se priorizar.
Vivemos, hoje, tempos em que a informação chega com muito mais facilidade às pessoas, cada vez mais cientes em suas visões e escolhas, o que também afeta diretamente no trabalho de RIG junto aos stakeholders. Contar com serviços de inteligência, ciência de dados e a capacidade de análise para acompanhar movimentos, mapear riscos e conseguir insights sobre oportunidades é um diferencial para melhor assertividade das decisões, ações e eficiência.
Toda atenção se faz necessária para garantir que políticas atribuídas à agenda ESG implantadas e divulgadas pelas empresas sejam de fato. Banalizar a sigla e não observar seu real propósito trata-se de um erro técnico ou mesmo desvio ético. A sua utilização indevida ou inadequada pode provocar um efeito reverso, como o indesejável carimbo de “greenwashing”.
É legítimo e salutar que o objetivo central do negócio seja a obtenção de lucros e valores aos acionistas, já que promovem novos ciclos de investimentos, geram emprego e renda, dentre outros benefícios. Entretanto, não há mais como desassociar essa finalidade de uma gestão verdadeiramente transparente e socioambientalmente responsável, que devem estar no mesmo grau de relevância para que decisões levem em conta o interesse público e o bem comum.
A área de RIG, justamente por reunir expertise de relações com stakeholders e a capacidade de “construir pontes”, tem o papel indeclinável e estratégico de fomentar internamente e retroalimentar a agenda ESG. Afinal, é o time de RIG que mantém agendas de interlocuções. É ele, portanto, que tem como qualificar o diálogo, aprimorar os pontos de interface, não só no olhar para o curto prazo, mas identificar se essa atuação está em linha com as aspirações para o longo prazo. Essa atuação é um passo categórico para harmonizar temas críticos e sensíveis de interesse do mercado e sociedade em geral.
Todos ganham com a adoção desta filosofia; portanto, seja protagonista também!
*Robson Santos Campos é profissional especializado em Relações Governamentais/Institucionais/Defesa do Consumidor
ESCREVA PARA A SIGALEI E CONHEÇA TODAS AS POSSIBILIDADE DE MONITORAMENTO E ANÁLISE PARA RIG: frederico@sigalei.com.br