A importância da construção de estratégias que tragam as variáveis políticas para um nível gerenciável é abordada neste artigo escrito pelo cientista político e Diretor de Estratégia da Sigalei, Ivan Ervolino. Confira!
ssa é uma pergunta que serve para puxar assunto no elevador e que ganha importância quando se aproxima o final de semana ou uma viagem. A questão pode ter chamado a atenção sobre o porquê de abordamos dois assuntos tão distintos, mas que carregam semelhanças na forma como são encarados. Serve para ilustrar que, em muitas instituições, a gestão de risco político é tratada como um fenômeno que é possível de se prever, mas resta torcer para que a previsão esteja certa ou errada. Do mesmo modo, durante algum tempo, se considerou que as variáveis políticas não eram gerenciáveis e restava apenas considerá-las e esperar pelo resultado.
O objetivo deste artigo é mostrar o nosso entendimento sobre Inteligência Política e como o debate sobre este tema evoluiu para pensar estratégias que tragam as variáveis políticas para um nível gerenciável.
Por ser um tema debatido em várias áreas de conhecimento, como Ciência Política, Relações Internacionais e Administração, faz-se necessário elucidar o que entendemos quando falamos sobre análise política e, mais especificamente, Inteligência Política.
De fato, o termo mais utilizado é Análise de Risco Político, contudo entendemos que o comportamento político traz riscos, mas também oportunidades para as empresas. Sendo assim, quando nos referimos à Inteligência Política, significa dizer que é preciso considerar na análise as possíveis perdas e os possíveis ganhos. Ter Inteligência Política significa estar apto, enquanto instituição, para aproveitar as oportunidades e, também, gerenciar as perdas.
Para isso, é necessário estruturar uma série de procedimentos para avaliar os cenários e, assim, tomar a melhor decisão possível. As decisões na arena política são dinâmicas e dificilmente se consegue ter um panorama de todas as potenciais variáveis. Há jogos ocultos, entretanto, isso não deve paralisar a análise, mas buscar ainda com mais interesse soluções que agreguem, na avaliação do analista (de forma mais qualitativa), informações de qualidade e que sejam organizadas. Nesse ponto, a tecnologia ganha importância, pois com ela conseguiremos avançar em velocidade e qualidade na obtenção de informações.
Com relação aos tipos de análise política, existe a possibilidade de fazermos uma análise macro e buscar informações sobre questões globais (como a própria pandemia ou desastres naturais). Existe também a análise política voltada para uma determinada agenda dentro de um determinado país. E aqui deve se levar em conta os atores e instrumentos que esta agenda envolve. Ou seja, os atores e instrumentos variam de acordo com a agenda que se busca.
Em síntese, consideramos que a Inteligência Política se refere à análise dos riscos e, também, das oportunidades, sendo feita através de análises pautadas por agendas/temas dentro de um país.
Para mostrar qual o atual estágio, é importante mostrar como este debate evoluiu.
O primeiro movimento para analisar os cenários considerava que a política não era vista como uma oportunidade, mas como algo que deveria ser limitado, pois a princípio só gera malefícios (não havia oportunidades, apenas riscos). Nessas análises se considera o mercado em equilíbrio, que se autorregula e que mantém em equilíbrio demanda e oferta. O grande problema destes modelos é, exatamente, não considerar a política como uma variável relevante, mas que apenas atrapalha ou existe para dificultar a evolução da economia e dos mercados.
Uma evolução neste modelo trouxe análises mais multidimensionais e que considera a política junto com mercado e economia. Contudo, se trata de uma análise pouco dinâmica, pois encaixa os riscos em uma escala relacionada à capacidade dos Estados a lidarem com as questões sociais, culturais, políticas e econômicas. Essa escala permite que o analista crie uma análise do risco daquele país. Isto é, as análises consideram entre os sistemas políticos àqueles que estão mais ou menos propensos aos riscos e aos colapsos.
Apesar da melhoria, o problema é que as empresas, seus investimentos e os atores dentro dos países interagem de maneiras diversas e isso, por conseguinte, gera resultados diferentes. Ou seja, há diferentes riscos políticos, sendo difícil colocar as mesmas implicações para todas as situações. Essas padronizações diminuem a capacidade analítica e, principalmente, esta simplificação pode gerar distorções na análise.
Essas incorreções levaram a outra evolução e trouxe a análise para uma lógica de diminuir o número de correlações de variáveis macro para modelos de microanálise qualitativas. Em outras palavras, começou a considerar que a análise deve ser feita por agendas/temas e não de maneira geral. Contudo, o foco em análises qualitativas são menos ágeis e, em alguns casos, são mais complexas de serem replicadas. Por estes motivos, esses modelos começam a ser preteridos, pois há risco de se levantar muitas variáveis, mas com análises poucos conclusivas ou demoradas, sendo que o timing para quem busca mitigar riscos ou aproveitar oportunidades é uma variável essencial.
A evolução destes modelos nos trouxe para o cenário atual. Entendemos que a variável política é importante, é dinâmica, deve contar com avaliações menos frias, mas que, para um mapeamento mais eficaz das possibilidades de ganhos ou perdas, é preciso contar com a coleta, organização e disponibilização de grande volume de dados. E aqui temos o momento que aliamos a tecnologia.
Para se conseguir Inteligência Política, a análise deve, então, levar em conta dados que permitam ao analista entender as relações e as dinâmicas entre os atores, entre as instituições e entre os atores e as instituições. Devemos olhar as instituições e os atores, sendo que para cada tema vai existir uma composição diferente e que impactarão de forma distinta.
Não há como evitar os movimentos no cenário político, visto que ele é construído tendo vários interesses que são colocados ao mesmo tempo. Sendo assim, é preciso gerenciar as opções tanto para mitigar as ameaças como para aproveitar as oportunidades. Sempre haverá restrições legislativas/regulatórias que o legisladores podem lançar mão. Possivelmente os tomadores de decisão, nestes momentos, terão como estratégia impor às empresas estes regramentos. Se você é da parcela que vê o copo meio cheio, podemos pensar que sempre haverá possibilidades de incrementar os ganhos, pois estes mesmos tomadores de decisão podem entender a importância de determinada agenda.
O fato é que o desafio sempre será entender qual a probabilidade de determinado movimento ocorrer e qual será o impacto se isso ocorrer ou não, essa equalização é dinâmica pela própria lógica da arena política (por este motivo conseguir extrair informações de uma grande quantidade de dados pode ser uma vantagem importante).
Como se nota a complexidade das análises são desafiadoras e, por conta disso, é importante utilizar ferramentas para criar as estratégias de Inteligência Política. Elas podem ser, por exemplo, frameworks e plataformas que auxiliam na construção destas estratégias.
Nossa proposta aqui na Sigalei é estruturar processos de criação de Inteligência Política para nossos clientes utilizando um framework e a plataforma Sigalei, tendo como foco de nossas soluções as análises de cenários dentro dos países, começando com o Brasil, país cuja volatilidade de cenários não deixa nenhum analista política entediado.
Por esta razão criamos nosso framework, que é inspirado no modelo trazido por Condoleezza Rice e Amy Zegart (2018) e que foi estruturado em 04 etapas (Monitorar, Analisar, Compartilhar e Medir). Ele foi desenvolvido para se encaixar no fluxo de utilização da Sigalei, para que os clientes consigam máxima performance na criação das estratégias.
A razão da união de um framework e de uma plataforma é que as análises demandam avaliações qualitativas, mas é essencial contar com um grande volume de informações organizadas. Esta união ajuda para que não se perca o foco num volume grande de dados e nem se torne simplista demais por conta de não conseguir processar esses dados manualmente.
Acreditamos que é possível que sua instituição tenha Inteligência Política para mitigar os riscos, assim como mapear as potenciais oportunidades. O ponto aqui é que, se bem executada, esta pode ser muito útil para preparação de possíveis cenários e também ser uma ferramenta para auxiliar em decisões preventivas.
Buscamos contribuir com o debate sobre inteligência, mas também sobre tecnologia, visto que o casamento entre análises qualitativas e dados deixa o foco mais preciso, melhora a capacidade de refinar as análises e estratégias, além de aumentar a eficácia na estruturação e na implementação de projetos de Políticas Públicas.
Por fim, mas não menos importante, entendemos que esta junção melhora também a transparência das atividades, já que as decisões são pautadas em análises que levam em conta informações.
Desenvolvemos soluções para permitir que as instituições tenham inteligência e, assim, a arena política seja não apenas previsível, mas passível de ajustes e correções que levem à melhores resultados. Temos muito que avançar neste tema, seja no debate sobre os modelos de análise, seja na utilização das tecnologias.
Em breve, iremos retomar o assunto Inteligência Política, aqui na seção Insights. Aguardamos a sua contribuição neste debate. Entre em contato conosco e nos conte qual é a maior dificuldade da sua organização. Para isso, é só CLICAR AQUI.
Conte com a Inteligência Sigalei para ajudar na construção das melhores estratégias, mesmo em ambientes de alta volatilidade. Afinal, se for chover, é melhor repensar compromissos externos ou levar um guarda-chuva, mas nunca se molhar.