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Tabata Amaral: a nova cara do Congresso

Publicado em:
17/12/2018

Na política brasileira, renovação e juventude não são termos que costumam dialogar. Na maioria das vezes, rostos jovens ligados a sobrenomes empoeirados acabam dando nova roupagem a projetos de poder ultrapassados. A passagem do bastão para uma cadeira na câmara de vereadores, Congresso ou Executivo é encarada de forma natural, como se a política fosse uma padaria - um negócio passado de pai para filho. E qual o perfil desses jovens? Geralmente, são políticos cujas ideias já envelheceram cedo demais, porque já foram empacotadas pelo remetente. Jovens que nascem velhos, tal qual Benjamin Button, mas com pouca perspectiva de rejuvenescer.

Por isso, causa estranheza e admiração a chegada ao cenário político nacional de um perfil jovem e realmente oxigenado. Alguém que, no início do primeiro mandato do ex-presidente Lula, estava aprendendo as operações básicas de matemática e que hoje representa um parcela considerável do eleitorado paulista.

Aos 24 anos, Tabata Amaral (PDT/SP) foi eleita deputada federal com 264.450 votos. De origem humilde, crescida na periferia, Tabata reescreveu a sua história por meio da educação. Com o bom desempenho em olimpíadas escolares, conquistou uma bolsa de estudos em uma escola particular, de onde saiu rumo ao olimpo do ensino superior. Aprovada em várias universidades americanas, optou por Harvad. A cientista política e ativista ainda ajudou a criar movimentos de destaque nacional como o Mapa Educação, área que é uma das suas principais bandeiras.

Em entrevista para o Blog Tudo é Política, Tabata relembrou a sua trajetória, falou sobre o novo Congresso e dos princípios que vão pautar o seu relacionamento com os profissionais de Relações Institucionais e Governamentais. Boa leitura!

1 – É difícil fugir do clichê. Você tem uma história de superação muito forte, muito inspiradora. Em que medida isso pode facilitar ou prejudicar o seu trabalho no Congresso, já que você tem uma trajetória totalmente diferente da grande maioria dos parlamentares?

A minha trajetória é uma das maiores bagagens que eu levo, porque foi com ela que aprendi e me tornei quem eu sou. Então acho que o maior peso da minha trajetória na minha atuação no Congresso vai ser saber o que significa você vir da periferia, estudar na escola pública, não ter convênio médico, saber lidar com pessoas com dependência química desde cedo. Esse vai ser o maior impacto que minha trajetória vai ter na minha atuação e isso me deixa muito feliz porque acho que faltam vários pontos de vista no Congresso. Um deles, é o da maioria da população que vive sem nenhuma oportunidade.

2 – Apesar de jovem, você tem experiência na articulação de grupos e movimentos. Como isso vai te ajudar no diálogo com diferentes grupos de pressão que atuam defendendo interesses legítimos junto à Câmara?

Um dos maiores objetivos que eu tenho para minha atuação é ser uma pessoa que faz contribuições relevantes para educação, conseguindo dialogar com todos os lados, conseguindo ir além da polarização. Eu acho que isso tem muito a ver com meu trabalho até aqui. Então eu espero levar essa experiência de saber ouvir as pessoas, saber olhar para evidência, entendendo se aquilo realmente é bom para todos e não só para um grupo organizado e sabendo apresentar isso dessa maneira para os diferentes lados que hoje estão representados lá no Congresso.

3 - Quais são alguns princípios que vão pautar o seu relacionamento junto aos profissionais de Relações Institucionais e Governamentais (RIGs) que trabalham junto ao Congresso?

A representação de interesses é intrínseca à vida democrática e base do capitalismo. A interação entre o setor público e o privado deve se dar, mas sob regras claras. A ética deve pautar esse relacionamento. Todos podem, portanto, se expressar e defender pontos de vista, segmentos ou setores aos quais pertençam. Do que não se pode abrir mão é da integridade e transparência que deve cercar o processo de defesa de interesses. Não se pode aceitar a concessão de privilégios injustificáveis. É preciso jogar luz nas relações que daí decorrem, seja no âmbito dos Executivos e Legislativos, nos planos federal, estadual e municipal, bem como no âmbito do Judiciário, considerando que, no presente, decisão de questões importantes se deslocaram para essa esfera, notadamente o STF.

4 – Ainda em relação aos profissionais de RIG, a profissão foi reconhecida pelo Ministério do Trabalho no começo do ano e entrou na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), mas a atividade ainda não foi regulamentada. Na sua opinião, quais são alguns pontos importantes que não podem faltar nesta regulamentação?

Regulamentar o lobby, estabelecendo seus parâmetros e limites, é essencial para se alcançar idoneidade no processo, com a consequente responsabilização dos agentes, quando for o caso. Além da própria Constituição, o Brasil tem o código de conduta da alta administração pública, a Lei de Acesso à Informação, a lei da empresa limpa, entre outras conquistas, que embasarão o debate em torno dessa regulamentação. Mas é preciso exatamente isso: continuar o diálogo. O tema não está fechado, por sua complexidade e polêmica que desperta. Devemos estar atentos para não nos perdermos, contudo, em meio à burocracia que envolve essas discussões, tendo em mente que o Brasil já não tolera mais atos de corrupção, abuso de poder ou tráfico de influência. Temos que ter vontade política para finalizar esse processo, tendo em mente que a sociedade é a beneficiária final da institucionalização do lobby.

5 – Em relação à educação, área na qual você é muito bem articulada, quais são os principais temas da sua agenda?

Em relação à educação, o foco da minha atuação será a educação básica que eu entendo que é o motor mais importante quando falamos de desenvolvimento, de inclusão e até mesmo de ética, mas também é o mais ignorado porque não tem uma articulação dos alunos ou dos pais pró-educação básica. Dentro da educação básica, tem algumas pautas que são muito latentes, que estão se impondo mesmo porque têm prazo de validade. Uma delas é a renovação do Fundeb, Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica, e a valorização dos profissionais da educação. A minha visão é que o Fundeb precisa ser mais redistributivo, mas também, de certa forma, cobrar contrapartidas de quem o está recebendo, porque é a chance que a gente tem de espalhar boas práticas Brasil afora, como o fim da indicação política para o cargo de diretor escolar e também de cobrar resultados na educação básica. Eu também espero ter uma atuação muito forte na questão dos professores, na formação inicial, na formação continuada, especialmente agora que a base nacional comum curricular será implementada, e de forma geral em sua valorização como profissionais de extrema relevância que são.

6 - Como você vê a formação do novo Congresso? Você vê uma sintonia entre executivo e legislativo ou pensa que haverá problemas de governabilidade?

O novo congresso é muito conservador, mas, mais do que isso, é extremamente polarizado. Eu acho que, por enquanto, ainda não há uma sintonia muito grande entre o Legislativo e o Executivo e essa sintonia não vai cair do céu. Vai ser necessário muito diálogo dentro das Casas, com o Executivo, para que a gente evite uma paralisação de quatro anos que a vida não vai perdoar. A gente não está mais com tempo ou condições de passar por isso.

7 - Você é identificada como um dos principais nomes ligados à renovação do Congresso. Em relação às práticas usuais dos parlamentares, seja a conduta ou as proposições, o que você pretende fazer de diferente?

Eu penso na mudança que quero propor na minha atuação em duas frentes: uma delas é na parte temática da agenda e eu tenho um compromisso muito grande de realmente pensar nas pessoas e não só em alguns grupos organizados; de, de fato, pensar no que há de evidência, olhar para o que é melhor e isso com certeza vai além dos extremos, e aí o meu maior compromisso é com educação. E tem outro tipo de mudança que é a das práticas; então eu não vou usar toda a verba que tenho direito, vou ter processo seletivo para compor minhas equipes dos gabinetes, junto com outros dois parlamentares que foram eleitos representando o Movimento Acredito. Vou ter um gabinete compartilhado para potencializar nosso trabalho. Então tem algumas inovações que a gente está pensando, mas a maior delas, de fato, será a transparência completa porque precisamos aproximar um pouco mais o que está acontecendo das pessoas. E vou ter o gabinete itinerante cuja proposta é todo final de semana levar formação política e abarcar o estado inteiro ao longo desses quatro anos.

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RIG
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