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País mais fascinante da Copa bate bolão em democracia

Publicado em:
24/6/2018

Um cineasta está em um bar tomando com os amigos uma bebida forte feita com polpa de batata fermentada e cominhos e beliscando uma poção de tubarão putrefato. Ente um gole e outro, em um lugar onde o sol não se põe em alguns meses do ano, ele comenta com amigos que joga bola nas horas vagas e que até já pegou um pênalti cobrado por Lionel Messi, em uma Copa do Mundo. Parece conversa de quem abusou de Brennivín, a aguardente típica do País, enquanto degustava um hákarl. Mas, apesar de inverossímil, a prosa pode ser absolutamente real.

O cineasta Hannes Halldorsson, de 34 anos, é o goleiro da seleção da Islândia, a sensação da Copa do Mundo na Rússia. Ele foi o principal responsável pelo empate por 1 a 1 entre Islândia e a poderosa Argentina, na estreia do time na Copa do Mundo. No segundo jogo, o time se rendeu à Nigéria; perdeu por 2 x 0. Mas se a exibição em campo não foi lá essas coisas, na arquibancada, a torcida segue como séria candidata a ganhar o título de mais simpática desta Copa, o que ajudou a jogar luz a um dos países mais fascinantes do mundo.

A Islândia é uma pequeno País gelado no norte do Atlântico. Tem uma população de aproximadamente 300 mil habitantes, o equivalente a uma cidade média no Brasil, como Uberaba, no Triângulo Mineiro. Mas é uma gigante em renda e qualidade de vida. Também bate um bolão quando o assunto é democracia.

Primeiro parlamento do mundo

A Islândia foi fundada como um país de cidadãos livres. E para proteger essa liberdade, foi estabelecido em 930 DC o Althing, o primeiro parlamento do mundo. Todos os verões, os moradores se encontravam no vale de Thingvellir para debater as leis e para julgar importantes casos. “O espírito da democracia e o forte sentimento de independência sempre fez parte da nossa composição social” explica, em entrevista exclusiva para o portal Sigalei a diretora de Comunicação e Diplomacia Pública da Islândia Maria Mjöll Jónsdóttir.

E a mesma instituição continua forte até hoje com efetivos índices de participação política, um dos orgulhos do País, que não exige o voto obrigatório. “Nas últimas eleições para o Althing, em 2017, a participação popular foi acima de 80% e nas eleições municipais, mês passado, o índice ficou em 67%”, conta Jónsdóttir.

O atual parlamento tem 63 membros – 39 homens e 24 mulheres, com mandato de 4 anos. Ao todo, são 8 partidos que elegeram representantes em um sistema unicameral. Como na maioria dos países da Europa, a Islândia é uma república parlamentar.

Para o professor de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Eduardo Noronha, a tradição democrática da Islândia, assim como a de outros países europeus, é facilitada pela superação da pobreza. “Enfim, a participação democrática depende dos cidadãos terem superado a luta para a sobrevivência. Se o cidadão precisa gastar toda a sua energia para ganhar seu salário, sustentar seus filhos, e promovê-los para uma vida melhor não lhe resta tempo para a atuação política.”

No caso da Islândia, a tradição democrática é um elementos de coesão nacional. “Os Islandeses se veem como uma sociedade igualitária e democrática e são orgulhosos de sua herança, o que inclui o Althing”, ressalta Jónsdóttir. Orgulhoso de seu passado, o país com o parlamento mais antigo do mundo não para de olhar para a frente. E, em tempos de Copa do Mundo, as grandes seleções estão na mira deste pequeno notável.

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